quarta-feira, 25 de julho de 2007

Coluna Paulo Sant'ana 23/07/2007 - Incrível

Ainda plange nos ouvidos de Lula e seus ministros o estrépito da vaia do Maracanã. Até agora, a melhor explicação que encontrei, entre tantas confusas e disparatadas para as vaias que retinem no martelo e na bigorna, a mais razoável foi a que eu próprio descobri: a vaia foi para o apagão aéreo. Segundo minha elucubração, eram muito caros os preços dos ingressos no Maracanã para aquele dia de inferno astral da nomenclatura governista. E como custaram R$ 50, R$ 100 e R$ 200 os ingressos, só se dirigiram para o Maracanã naquele dia sinistro os abastados, gente que só anda de avião, mesmo quando tem de ir do Rio para São Paulo. E como todos que estavam no Maracanã são usuários do transporte aéreo, vaiaram os atrasos dos vôos, a incerteza e a demora das viagens.
Foi a vingança da minoria, menos de 10% da população brasileira viaja de avião. O resto todo viaja de ônibus, muito poucos de metrô, de carroça ou montados em burricos. Os ônibus urbanos e os burricos também demoram, atrasam, maltratam seus passageiros, mas essa grande multidão de usuários não tem opinião política, não culpa o governo pelos atrasos em suas locomoções, já se acostumou com a fatalidade. Quem incomoda e quase derruba o governo com seus protestos são os 10% que viajam de avião e exigem presteza e exatidão nos serviços aéreos.
Foi assim que essa burguesia aeronáutica se combinou para dirigir-se ao Maracanã e vaiar o Lula. Tem gente que estava no Maracanã com sua passagem aérea no bolso, mas, como o avião tinha atrasado ou o vôo tinha sido cancelado, decidiu dar uma passada no Maracanã e aplicar uma vaiazinha no Lula. Tanto que, naquele dia da vaia no Maracanã, não engarrafaram os serviços de ônibus e metrôs às saídas do estádio. Engarrafaram, pela primeira vez na história do Maracanã, os 94 mil carros com motoristas particulares que foram buscar seus patrões que tinham ido lá para vaiar o Lula. Ninguém utilizou transporte coletivo naquele dia. Os 94 mil burgueses foram transportados por seus carros blindados e com motorista. Eu não entendo como é que essa minoria pode lotar um estádio, mas foi o que aconteceu. A maioria não foi ao estádio. Se tivesse ido, Lula seria delirantemente aplaudido.
Mas o episódio deve servir de lição para os estatísticos e demógrafos: a impressão que ficou é de que o povo não está gostando do governo. Não foi o povo que vaiou, foi a elite que incrivelmente lotou o estádio e emitiu uma vaia estrondosa. Continuo a não entender como é que uma elite se combina para lotar um estádio. Mas quem manda é a elite. Igualzinho como no caso dos salários do funcionalismo público: quem ganha mais é uma minoria, uma elite. Mas ela ganha mais porque a sua vaia ressoa mais nos ouvidos do governo. E o resto do funcionalismo, miserabilizado, não tem dinheiro para ir ao estádio e vaiar. Assim, quem manda e quem vaia com eficácia é a elite. Por isso que ecoa mais profundamente, intimidando o governo, a vaia da elite. Ao contrário do pensamento positivista, os mortos serão sempre cada vez mais governados pelos vivos.

Paulo Sant1ana Arrasou!!!!!!!

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